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Márcio Pannunzio elegeu duas técnicas artísticas escanteadas tanto pelo mercado quanto pela crítica de arte, como seus meios de expressão preferenciais: a gravura e o desenho. O preconceito do mercado é por causa de ser trabalho em papel, de valor comercial baixo. O preconceito de boa parte da crítica reside em considerar ambos como fazeres artesanais sem espaço em um cenário de constante revolução tecnológica. Não obstante, foi manuseando ambos que Pannunzio foi construindo dia a dia, com persistência e teimosia, um fabulário único que irmana sua obra com as dos magistrais Marcelo Grassmann e Osvaldo Goeldi. Seu universo é sombrio, claustrofóbico, transpirando paixão e insanidade. É extremamente e ferinamente crítico dos valores que bestificam e aprisionam as pessoas. É trabalho de impacto que, quanto visto com a atenção que merece, perturba e faz pensar. Não é, seguramente, arte para decorar e também por isso, passa bem longe das galerias comerciais.

Em quatro décadas de carreira, Pannunzio conquistou doze prêmios internacionais em prestigiados concursos de gravura europeus, americanos e latinoamericanos e quarenta prêmios no Brasil, entre eles, nos salões de arte mais respeitados e concorridos. Suas exposições acontecem fora do circuito comercial, geralmente em espaços culturais públicos. São agora contabilizadas, trinta e três individuais. As últimas tiveram a retaguarda dos Programas de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo – ProAcs Edital e da Caixa Cultural – que sediou individuais suas no Rio e em São Paulo.

Desde a primeira exposição da qual participou – o V Salão Nacional de Artes Plásticas em 1981 até a última, 42 em 24, são quarenta e dois anos de atuação continuada, sem intervalos, sem buracos, produzindo, concorrendo, expondo. É tempo mais que oportuno para se fazer uma retrospectiva da sua obra gráfica e fazê-lo num evento que aconteça em três diferentes cidades paulistas.

O caráter de ineditismo da proposta reside justamente dessa ser uma retrospectiva da sua obra gráfica, construindo um inventário minucioso de sua produção desde o início da década de 80. As circunstâncias que favorecem a sua execução são a experiência acumulada do artista, curador e equipe de trabalho na realização das suas últimas mostras, o fato de já existirem obras emolduradas, prontas para expor e a facilidade de selecionar e emoldurar as demais.

O projeto pretende promover a gravura e o desenho como técnicas criativas consistentes e profícuas. A despeito da antiguidade de ambas, são elas absolutamente democráticas no seu acesso descomplicado, fácil, barato aos artistas desabonados. A gravura, muito antes da vertiginosa difusão da imagem em nossos dias, já a difundia desde o seu nascimento, contribuindo decisivamente para popularizar a cultura.

O didatismo da exposição ajudará a eficientemente esclarecer a maioria dos visitantes, que não sabe o que é gravura. A exibição de matrizes, materiais de gravação e impressão fornecerá uma ideia precisa do esforço envolvido na prática da gravura em relevo.

As visitas monitoradas facilitarão o contato dos visitantes com o universo plástico de Pannunzio. As oficinas pedagógicas com escolares da rede pública lhes possibilitarão um primeiro encontro com a ação de gravar.

Os vídeos consistirão em obras especiais, com luz própria, criando um espaço de respiro nas individuais. Também ajudarão os visitantes a compreender melhor as particularidades de cada uma das técnicas. A animação com desenhos resultará em uma experiência criativa de emprego da tecnologia, trazendo à baila o tema do desenho e da gravura digital.

Os catálogos de excelente padrão gráfico permanecerão como material de referência, eternizando o projeto.

Márcio Pannunzio – súmula gráfica, além de proporcionar fruição estética de qualidade, estimulará seu espectador a refletir sobre a sua condição existencial: sua estúpida fragilidade, sua enorme complexidade, sua problemática inserção na sociedade. Essa é uma virtude do trabalho de Pannunzio. Antigamente empregava-se a definição de arte engajada; não é mais apropriado falar-se assim, tudo mudou. Mas o conceito conserva algum frescor no sentido de se pensar em uma arte que vai muito adiante da preocupação em ser bela ou politicamente correta; de uma arte que, por muito pretenciosa que o seja, idealisticamente alimenta a ambição de despertar consciências dormentes no seio de uma sociedade massificada, consumista, fútil, imbecilizada.

Parodiando a campanha publicitária de um cartão de crédito, pode-se sem receio de errar dizer: conscientizar não tem preço. Essa deveria, uma vez mais, idealmente pensando, ser a finalidade primeira da educação e da própria cultura. 

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